Hoje é 22 de dezembro de 2024 10:58

Dona de clínica de estética é presa por realizar procedimentos médicos e lesionar clientes

Segundo a Polícia Civil, estabelecimento fazia procedimentos invasivos por profissionais sem formação e usava produtos não permitidos
Vítimas denunciam que empresária as intimidava para assinar acordos de confidencialidade quando reclamavam do sofrimento durante cirurgia e pós-operatório // Foto: PCGO

A empresária e influenciadora Karine Gouveia, dona da clínica de estética que leva seu nome, foi presa nesta quarta-feira (18/12) em uma operação que investiga procedimentos estéticos e cirúrgicos que teriam lesionado pacientes. O marido da empresária, Paulo Cesar, e duas funcionárias da clínica, uma biomédica e outra dentista, também foram presos.

Além dos mandados de prisão, foram cumpridos ainda sete mandados de busca e apreensão em Goiânia e Anápolis. Os suspeitos tiveram bens e contas bancárias bloqueadas, somando um valor de R$ 2,5 milhões e um helicóptero avaliado em R$ 8 milhões.

A defesa do casal afirmou que a clínica possui todos os documentos necessários para funcionar e que Karine e Paulo sempre praticaram os atos dentro do que determina a lei, afirmando que o local atende a todos os padrões exigidos pela Vigilância Sanitária.

Entretanto, o delegado responsável pelo caso, Daniel Oliveira, explica que a clínica não possuía alvará sanitário para realizar cirurgias invasivas. A permissão que possuíam era somente para procedimentos estéticos.

“Deveria ter um alvará sanitário para que fosse realizado esse tipo de cirurgia ali, o que não tinha. A Vigilância Sanitária nos informou que o alvará que tinham era apenas para procedimentos minimamente invasivos, relacionados à estética. Inclusive, a atividade econômica que está autorizada por esse alvará fica dentro de uma subclasse de cabeleireiros. E muitos dos procedimentos ali só poderiam ser feitos por médicos especialistas, principalmente os relacionados ao nariz”, informa o delegado.

De acordo com o superintendente da Polícia Científica, Ricardo Mattos, foram encontrados equipamentos para lipoaspiração que poderiam ser manuseados somente por médicos.

“Nós encontramos, realmente, instrumental cirúrgico, incluindo equipamentos para aplicação em lipoaspiração. Equipamentos que não podem ser manuseados ou operados de forma alguma por profissional não médico. Todos esses equipamentos foram materializados, registrados em laudo, bem como também a questão médico-legal para que possamos atender”, informa o superintendente.

Uma das vítimas teve necrose no nariz e outra precisou ficar entubada

A Polícia Civil explicou que, até o momento, foram identificadas 24 vítimas. Uma delas teve necrose no nariz após fazer um procedimento estético. Outra paciente precisou ficar entubada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por também ter uma necrose no nariz.

“Essas vítimas sofreram necroses. Muitas delas tiveram que fazer enxertos, e algumas fizeram na própria clínica [de Karine], por profissionais que não eram médicos, e o corpo rejeitava o osso ou o produto que colocavam”, disse o delegado.

Segundo a investigação, os técnicos que atuavam na clínica não tinham formação para realizar os procedimentos. Além disso, foram encontrados materiais e produtos inadequados no estabelecimento.

“De plano, já detectamos, conjuntamente com a equipe da Polícia Civil, medicamentos vencidos. Isso já foi comprovado. No que diz respeito à diluição ou eventual adulteração, esses medicamentos vão para análise no nosso laboratório de toxicologia para comprovar essa parte também dos delitos cometidos pelo casal e pela organização criminosa”, afirma Ricardo Mattos, superintendente da Polícia Científica.

A clínica atendia famosos como os cantores Felipe Araújo e Naiara Azevedo. Mas, conforme explicado pelo delegado, eles utilizavam produtos irregulares ou vencidos para fazer promoções.

“Temos laudos médicos que apontam o uso de substâncias que não eram Botox. Por exemplo, o PMMA ou silicone, que geraram essas sequelas. E os relatos apontam que, para realizar essas promoções que ela fazia, como na Black Friday, em que oferecia Botox por um preço muito menor, não se usava o Botox com a diluição adequada ou até mesmo se utilizavam produtos de segunda classe que nem são autorizados no Brasil”, comenta Daniel Oliveira.

Os investigados podem ser acusados de lesão corporal gravíssima, crimes contra o consumidor, estelionato e outros crimes. Além disso, vítimas denunciam que a empresária as intimidava a fazer outros procedimentos na clínica para corrigir os problemas causados anteriormente.

“Inclusive recebia essas vítimas quando elas voltavam para reclamar de uma sequela de pós-operatório, porque havia muitos problemas, eles relatam muito sofrimento durante a cirurgia e pós-operatório. Era ela que recebia ou o marido, e, nessas ocasiões, inclusive, havia ali uma intimidação para que essas pessoas assinassem termos de confidencialidade, de algum acordo, para que a clínica oferecesse procedimentos, tal, a título de reparação do que aconteceu, para que a pessoa não reportasse, não acionasse na Justiça a clínica”, explica.

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