A Justiça de Goiás decidiu que o médico Alfredo Carlos Mattos Junior, denunciado por uma adolescente de 17 anos por abuso sexual, deverá utilizar tornozeleira eletrônica. A decisão, divulgada nesta terça-feira (3/3), visa impedir que o suspeito fuja. No texto, o juiz considera que os crimes relatados ocorreram “no exercício da medicina, no local de trabalho do acusado”.
De acordo com a denúncia do Ministério Público de Goiás, o crime aconteceu em 2023, quando a jovem foi ao Hospital Ruy Azeredo, em Goiânia, para tratar dores abdominais. O médico, alegando realizar um procedimento para corrigir um caso de “aneversão no útero”, teria cometido o abuso dentro do consultório.
Anteriormente, o MP solicitou a prisão do médico, mas o pedido foi negado sob a justificativa de que os argumentos apresentados pelos promotores eram genéricos e fundamentados nos relatos da vítima e sua mãe. Contudo, o órgão recorreu para que o investigado usasse tornozeleira eletrônica, e esse pedido foi acolhido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).
A defesa do investigado afirma que ele tem miais de 30 anos de carreira “sem qualquer histórico de conduta inadequada”. Os advogados, no entanto, ainda não se pronunciaram com relação a decisão do uso de tornozeleira.
A Polícia Penal informou que, até a manhã desta quinta-feira (6/3), não havia sido notificada da decisão, mas instalaria o equipamento assim que fosse informada. O Hospital Ruy Azeredo também declara não ter recebido notificação sobre a nova decisão, mas ressalta que o médico não pertence ao quadro clínico da unidade desde 17 de fevereiro.
Em fevereiro, a Justiça determinou que o médico não poderia sair de Goiânia por mais de oito dias sem autorização judicial. Ele também deverá permanecer em casa entre 22h e 6h.
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), comunicou que, até quarta-feira (5/3), não estava ciente da decisão judicial. Por sua vez, o TJ-GO afirma que o caso está em segredo de justiça e, portanto, não há divulgação de informações sobre ele.

Entenda o caso
O crime denunciado pela adolescente, que tinha 17 anos na época, ocorreu em 2023. A jovem foi ao Hospital Ruy Azeredo relatando fortes dores abdominais. Após uma consulta inicial, ela retornou ao consultório com sua mãe e o resultado dos exames pedidos, uma endoscopia e uma ultrassom vaginal. Na ocasião, o médico afirmou que ela apresentava “anteversão do útero”, condição conhecida como “útero invertido”, e que essa seria a causa das dores.
A menina relata que o médico pediu que ela retirasse a blusa e a calça para realizar o procedimento de correção da posição do órgão. O processo afirma que ele acariciou as mamas da jovem, alegando estar a ensinando a fazer o autoexame.
“Em seguida, o denunciado colocou uma luva e introduziu os dedos na vagina da ofendida, manipulando o órgão genital por cerca de um minuto e meio, sob o pretexto de que estava ‘colocando o útero no lugar'”, consta no documento.
Após a vítima reclamar de dores durante o procedimento, a mãe interveio e pediu para que parasse, momento em que Alfredo afirmou ter colocado o útero no lugar. Após o ocorrido, ambas consultaram um ginecologista e foram informadas de que tal procedimento não possui respaldo técnico.
Nota da defesa de Alfredo Carlos Dias Mattos Júnior
Diante da denúncia que envolve o médico Alfredo Carlos Dias Mattos Júnior, sua defesa vem a público reafirmar seu compromisso com a verdade e a devida apuração dos fatos no âmbito do devido processo legal.
É fundamental ressaltar que o Dr. Alfredo possui uma trajetória profissional irrepreensível, com mais de três décadas de dedicação à medicina, tendo atendido milhares de pacientes sem qualquer histórico de conduta inadequada. O caso em questão, que se encontra em fase processual inicial, exige serenidade e rigor técnico para evitar pré-julgamentos indevidos.
A defesa reforça que todas as providencias necessárias serão tomadas para esclarecer os fatos e demonstrar a inexistência de qualquer irregularidade. Neste momento, confiamos na Justiça, que certamente conduzirá o processo em respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Reiteramos nossa plena confiança na inocência do Dr. Alfredo e no esclarecimento integral dos fatos, convictos de que a verdade prevalecerá.
Nota do Hospital Rui Azeredo
Em atenção, a determinação judicial sobre a atuação profissional do Dr. Alfredo Carlos Dias Matos Jr., o Hospital Rui Azeredo vem a público esclarecer que o referido profissional não pertence ao seu quadro clínico. O médico em questão não faz parte da equipe de colaboradores, nem mantém vínculo institucional com essa unidade hospitalar desde a data de 17 de 2. O Hospital Rui Azeredo reafirma seu compromisso com a qualidade no atendimento e a segurança de seus pacientes.
O hospital esclarece ainda que está à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.
Atenciosamente, diretoria jurídica do Hospital Rui Azeredo.
Condenação anterior
Em 2023, Alfredo Carlos foi detido em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, após ser considerado foragido da justiça em Minas Gerais. Nesse estado, ele deveria cumprir uma condenação pela morte de sua ex-mulher, Magda Maria Braga de Matos. O crime ocorreu em Nova Lima, Minas Gerais, em 2007. De acordo com as investigações, a vítima, que também era médica, havia solicitado o divórcio de Alfredo e estava internada para uma cirurgia visando tratar de dores abdominais.
Ao descobrir que Magda estava em um novo relacionamento, o ex-marido decidiu visitá-la no hospital. Durante esse tempo, a mãe de Magda estava presente no quarto, acompanhada por uma acompanhante. O ex-genro teria oferecido à ex-sogra um suco que continha sonífero. Em seguida, aproveitando-se da situação, ele teria introduzido uma substância nociva no catéter da ex-esposa, que acabou sendo intoxicada e, posteriormente, faleceu.
Por esse crime, Alfredo foi processado e condenado a 14 anos de prisão. Após a condenação, ele se mudou para Goiânia, onde passou a atuar como médico novamente. Sua localização foi revelada apenas quando seu filho divulgou na internet um panfleto informando que o pai estaria participando de uma palestra na Faculdade de Medicina de Rio Verde. Com isso, a polícia conseguiu prendê-lo durante o evento.