O candidato da oposição Yamandu Orsi venceu o segundo turno das eleições presidenciais do Uruguai, neste domingo, numa vitória que marca a volta ao poder do partido liderado pelo emblemático ex-presidente José Mujica, após cinco anos. Orsi recebeu, segundo autoridades uruguaias, pouco mais de 49% dos votos, enquanto Álvaro Delgado, da centro-direita, obteve cerca de 45% dos votos.
Durante seu discurso de vitória, Yamandú Orsi afirmou que “será o presidente que constrói uma sociedade mais integrada”. Ele destacou que essa sociedade deve ser “onde, apesar das diferenças, ninguém possa ficar para trás do ponto de vista econômico, social e político”.
Ao lado da vice-presidente eleita, Carolina Cosse, Orsi participou de um evento na Rambla de Ciudad Vieja, em Montevidéu. Ali, dirigiu-se a uma multidão de apoiadores da coligação de esquerda Frente Ampla, frisando a relevância da união nacional.
Para construir um país melhor, Orsi ressaltou que todas as partes devem cooperar e dialogar.
“Vamos compreender que outra parte do nosso povo, que hoje tem um sentimento diferente, assim como nós tivemos no passado, também precisará colaborar para construir um país melhor. Nós precisamos delas, e elas de nós. Que sigam defendendo suas bandeiras, suas ideias, porque é do debate de ideias que nasce um país melhor, sobretudo uma república democrática e com futuro”, afirmou.
“Serei o presidente que recorre continuamente ao diálogo nacional para buscar as melhores soluções, seguindo, é claro, nossa visão, mas ouvindo atentamente o que os outros têm a dizer”, complementou Orsi, que foi professor de história.
Orsi alcançou a vitória no primeiro turno, em 27 de outubro, obtendo 43,9% dos votos. Ele superou Delgado, que teve 26,8% dos votos, mas contou no segundo turno com o apoio de Andres Ojeda, do partido de centro-direita Colorado, que ficou em terceiro lugar com 16%.
Esquerda sul-americana comemora vitória
A esquerda sul-americana se animou com a eleição do discípulo do ex-presidente José “Pepe” Mujica. A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner atribuiu a vitória diretamente a Mujica: “Merecias essa vitória”.
O ex-presidente boliviano Evo Morales disse que “os ventos do progressismo sopram novamente na Grande Pátria, revitalizando o nosso espírito revolucionário para alcançar um mundo com justiça social”, e finalizou: “Nunca mais seremos o quintal de nenhum império”.
Na comparação com Morales, Lula foi protocolar, mas também fez questão de citar Mujica:
“Quero congratular o povo uruguaio pela realização de eleições democráticas e pacíficas e, em especial, o presidente eleito Yamandú Orsi, a Frente Ampla e meu amigo Pepe Mujica pela vitória no pleito de hoje. Essa é uma vitória de toda a América Latina e do Caribe. Brasil e Uruguai seguirão trabalhando juntos no Mercosul e em outros fóruns pelo desenvolvimento justo e sustentável, pela paz e em prol da integração regional”, destacou o mandatário brasileiro.
Candidato de direita reconhece derrota
Álvaro Delgado, candidato derrotado pelo Partido Nacional, de direita, reconheceu a vitória de Orsi e destacou a importância de respeitar a decisão soberana dos eleitores. Ele disse que, apesar da derrota eleitoral, sua coalizão permanece forte e atuante.
“Hoje, o povo uruguaio escolheu [aquele] que ocupará a Presidência da República”, declarou Delgado, dizendo que saúda Orsi em nome de “todos os membros da coligação [governamental]” que o apoiaram.
A eleição foi marcada por alta participação popular, com 89,4% dos eleitores comparecendo às urnas. A campanha foi descrita por muitos como competitiva, mas respeitosa.
O presidente Luís Lacalle Pou já se ofereceu para iniciar transição: “Liguei para Yamandú Orsi para parabenizá-lo como Presidente eleito do nosso país e para me colocar sob seu comando e iniciar a transição assim que ele entender que é pertinente”.
Lacalle Pou se tornou famoso no Brasil por seus contrapontos a Lula e a outros líderes de esquerda em reuniões na região, principalmente em relação à ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela.