As consequências das fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde 29 de abril são alarmantes. Segundo o boletim mais recente da Defesa Civil estadual, divulgado nesta sexta-feira (10/5) às 9 horas, quase 70 mil pessoas encontram-se temporariamente abrigadas devido à necessidade de deixarem suas residências. O número de desalojados chega a 337.116 em todo o estado.
A extensão do desastre é evidente nos dados: 435 municípios gaúchos, o que representa 87,5% do território, foram afetados pelas tempestades. Essa amplitude resulta em 17,6% da população total do estado, ou 1,916 milhão de pessoas, afetadas direta ou indiretamente pelos eventos climáticos, conforme o censo de 2022 do IBGE.
Infelizmente, a tragédia também tem seu preço em vidas humanas. Até o momento, 113 mortes foram confirmadas, com os nomes das vítimas divulgados pela Defesa Civil estadual. Ainda há uma morte em investigação para determinar sua relação com os eventos meteorológicos recentes. Com 146 pessoas ainda desaparecidas, há o temor de que o número de óbitos possa aumentar. O levantamento oficial aponta também 756 feridos em todo o estado.
Geografia e fatores humanos deixam RS suscetível a efeitos extremos
Os eventos extremos climáticos têm se intensificado em todo o mundo. No Brasil, os efeitos das ações humanas sobre o meio ambiente ficam evidenciados durante a atuação de fenômenos naturais como o El Niño e La Niña, que alternam períodos de extrema seca e chuvas intensas sobre o território nacional.
Segundo a diretora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Regina Alvalá, no estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, desde o início dos anos 2000, o fenômeno La Niña atuou intensamente na região causando sucessíveis longos períodos de seca, até 2023. Ainda no início da configuração do El Niño, em junho daquele ano, o extremo manifestado mudou.
As águas do Oceano Pacífico Tropical, aquecidas pelos efeitos da mudança climática, liberaram mais vapor de água na atmosfera e iniciaram períodos de chuvas cada vez mais intensas.
“As chuvas, principalmente na região metropolitana de Porto Alegre, culminaram em 16 mortes. Depois tivemos um outro grande desastre, no início de setembro, que registrou 54 mortes e mais quatro desaparecidos. E agora esse superdesastre já com mais de 100 mortes, muitos ainda desaparecidos e com impactos em praticamente quase todo o estado”, comenta.
Uma confluência de fatores deixa o estado do Rio Grande do Sul mais suscetível aos extremos causados pela mudança climática. A própria posição geográfica, a configuração das cidades e a falta de um programa eficiente de gestão de risco estão entre os fatores que favoreceram a catástrofe socioambiental vivida pelo estado.
“O Rio Grande do Sul está na extrema parte da região sul do Brasil, com fronteira ainda com países da América Latina. Então, em termos geográficos, está numa região que, quando consideramos a variabilidade climática, é uma região que acaba sendo, de fato, impactada por alternâncias de chuvas e secas”, explica Regina. (Com informações da Agência Brasil)